O estudo concluiu que os consumidores de maçãs consultavam os médicos com menos frequência que os demais participantes. Mas este resultado não foi estatisticamente significativo, já que os consumidores de maçãs costumam ter melhor nível educacional e fumar menos.
“A principal descoberta, de que não existe muita associação entre as pessoas que consomem regularmente uma maçã por dia e a probabilidade de consultar um médico, é porque é algo complexo”, afirma o principal pesquisador do estudo, o professor de Epidemiologia Matthew Davis, da Escola de Medicina Dartmouth Geisel, no Estado americano de New Hampshire.
“Segundo nossas análises, as pessoas que consomem maçãs possuem melhor saúde em geral”, segundo ele.
Afasta o médico ou o farmacêutico?
Mas os pesquisadores também descobriram que os participantes que consumiam maçã diariamente apresentavam menos probabilidade de usar medicamentos com prescrição médica. E esta conclusão foi significativa, mesmo depois de ajustadas as diferenças socioeconômicas entre os participantes que comiam ou não uma maçã por dia.
Por isso, o documento conclui que um ditado mais adequado seria: “Uma maçã por dia mantém o farmacêutico longe”.
Mas Davis questiona as frases que falam de uma maçã por dia. Para ele, pode haver outra razão por que ele e seus colegas não encontraram conexão entre o consumo diário de maçãs e as consultas com o médico.
“Parte-se da premissa de que você só visita o médico quando está doente, mas as pessoas se consultam para check-ups anuais e outros procedimentos de prevenção”, explica ele. Foi por isso que Davis também analisou os dados sobre a probabilidade de usar medicamentos receitados.
Para ele, “isso indica que as maçãs reduzem a probabilidade de doenças crônicas”.
O benefício não vem só do consumo da fruta; o suco e o purê de maçã também podem ser saudáveis. — Foto: GETTY IMAGES via BBC
Em última análise, Davis afirma que as maçãs sozinhas não são suficientes para impedir você de consultar um médico.
O mais recomendado é manter uma alimentação saudável em geral, “o que, na verdade, é o significado do provérbio”, segundo ele.
Colson concorda que a frase da maçã por dia se refere ao consumo regular de alimentos de origem vegetal. As maçãs são um bom exemplo porque têm custo acessível, são encontradas com muita facilidade e podem ser armazenadas por um bom tempo.
“Antes das geladeiras, você colocava maçãs no porão e elas duravam muito, sem criar mofo”, ela conta.
Outros estudos encontraram benefícios à saúde relativos ao consumo diário de maçãs, mas somente entre as pessoas que comem mais de uma delas por dia.
Em um estudo publicado em 2020, pesquisadores dividiram 40 participantes (todos com níveis de colesterol levemente elevados) em dois grupos. Um dos grupos comeu duas maçãs por dia e o outro consumiu uma bebida de maçã, com quantidade similar de calorias.
O experimento durou oito semanas. Os participantes não fizeram nenhuma outra alteração na sua alimentação, exceto pelos produtos de maçã.
Os pesquisadores concluíram que os consumidores de maçã apresentaram redução clinicamente significativa dos seus níveis de colesterol no final do estudo.
Mas o tamanho da pesquisa é um dos seus pontos fracos. Uma amostra de 40 participantes é relativamente pequena para podermos tirar grandes conclusões.
Outro estudo concluiu que comer três maçãs por dia estimulou perda de peso estatisticamente significativa e aumento dos níveis de glicose no sangue (que não foi estatisticamente significativo, segundo o acompanhamento) em 40 mulheres acima do peso.
Já em relação à melhor forma de consumir maçãs para obter o melhor benefício, Guzzo recomenda não descascá-las.
“Devemos comer a casca das maçãs, pois é nela que fica a maior parte dos seus polifenóis”, segundo ela.
E as variedades mais antigas são preferíveis, em relação aos novos tipos de maçãs, segundo Guzzo.
Em 2021, ela e seus colegas publicaram um estudo analisando o valor nutricional da maçã Pom Prussian, uma variedade antiga do norte da Itália. Guzzo observou que ela é mais rica em polifenóis do que as variedades mais modernas.
“Quando os cultivadores selecionam novas variedades, eles buscam outras características, como o tamanho, o sabor e a robustez das árvores”, explica ela. “E, quando eles selecionam estas características, em vez do teor de polifenóis, a variedade fica mais pobre [do ponto de vista da saúde].”
Para ela, alguns polifenóis podem produzir sabor amargo e as variedades mais doces provavelmente contêm menor proporção destes compostos.
Em relação à cor das frutas, Guzzo afirma que ela não tem tanta importância. Os polifenóis que tornam a casca das maçãs vermelha ou verde são bons para nós.
Em resumo, consumir uma maçã por dia pode não fazer você consultar o médico com menos frequência, mas poderá influenciar sua saúde em geral ou sua dependência de medicamentos de uso contínuo.
Mas, como sempre acontece, a perspectiva geral é mais complicada.
É ótimo comer uma maçã por dia, segundo Guzzo – desde que ela faça parte de uma alimentação rica em diversos outros alimentos de origem vegetal. Este, sim, é um fator fundamental para termos boa saúde.
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