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Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

CCJ da Câmara rejeita recurso de Glauber Braga, e cassação de mandato vai ao plenário

Presidente da Câmara sinalizou que o caso só deve ser pautado daqui a dois meses. Conselho de Ética deu ‘sinal verde’ à perda do mandato de Glauber Braga por quebra de decoro.

Por Kevin Lima, g1 — Brasília

 

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara rejeitou nesta terça-feira (29), por 44 votos a 22, um recurso que tentava impedir o avanço do processo de cassação do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ).

A rejeição do recurso levará o caso diretamente para votação pelo plenário da Câmara, que terá a palavra final sobre a perda do mandato de Glauber.

O presidente da Casa, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou que a cassação não será pautada imediatamente — antes disso, ele garantiu que dará ao menos 60 dias para que Glauber Braga consiga se defender.

Chutes e empurrões

O parlamentar do PSOL é alvo de uma denúncia feita pelo partido Novo, que o acusa de ter quebrado o decoro parlamentar ao agredir e expulsar do prédio da Câmara, com chutes e empurrões, um militante do Movimento Brasil Livre (MBL)(relembre abaixo)

Em 8 de abril, o Conselho de Ética decidiu, por 13 votos a 5, recomendar que o plenário decrete a perda do mandato de Glauber Braga, que ficou mais de uma semana em greve de fome contra o avanço do caso.

🔄 O órgão seguiu entendimento do relator do caso, deputado Paulo Magalhães (PSD-BA), que disse ter certeza de que as agressões ocorreram e que a conduta de Glauber violou o Código de Ética da Casa.

O plenário da Câmara tem a palavra final sobre a cassação — ou não — de um deputado por quebra de decoro. Cabe a Hugo Motta marcar a data de votação.

Nesta fase, todos os 513 deputados podem votar. São necessários 257 votos favoráveis para que Glauber perca o mandato.

Alternativa

Ao longo dos próximos meses, aliados de Glauber Braga pretendem negociar, com outros setores da Câmara, uma “alternativa” à decisão do Conselho de Ética.

Paralelo a isso, Glauber afirma que fará uma caravana por “todos os estados do país” para reunir apoio contra a cassação — a primeira parada deverá ser Belo Horizonte (MG), em 8 de maio.

O entorno do deputado entende que é possível que o plenário, regimentalmente, aplique uma pena diferente da perda do mandato.

Em 2021, na sessão que cassou o mandato de Flordelis, o então presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), anunciou novo entendimento sobre o rito de análise das cassações.

Até então, o plenário somente poderia decidir se aprovava ou rejeitava as recomendações do Conselho de Ética. Na prática, os deputados só podiam confirmar ou rejeitar a pena determinada pelo órgão.

Lira decidiu, no entanto, que o plenário não analisaria as recomendações do conselho, mas, sim, o projeto de resolução proposto pelo órgão — entendimento que abre caminho para que deputados proponham mudanças, como em qualquer outro projeto que tramita na Casa.

Para exemplificar, o projeto de resolução do caso Glauber diz que a “Câmara dos Deputados resolve: fica decretada a perda do mandato do deputado Glauber Braga por procedimento incompatível com o decoro parlamentar“.

O entendimento firmado por Arthur Lira permite, por exemplo, que deputados mudem trechos deste projeto, o que abrange a penalização.

As mudanças, segundo a questão de ordem, poderão ser discutidas por meio de emendas. Para apresentá-la, serão necessários apoios de 103 deputados.

“Como projeto de resolução, a técnica legislativa, no entender desta presidência, dá a oportunidade, como eu disse aqui, não à deputada em tela [Flordelis], mas a qualquer deputado que esteja nesta situação de propor uma emenda com 103 assinaturas individuais, não de líderes. Tal emenda terá que ser aprovada ou não em plenário e relatada pelo Relator do conselho”, disse Arthur Lira na ocasião.

 

Recurso rejeitado

recurso rejeitado pela CCJ havia sido apresentado por Glauber Braga na última terça (22).

Glauber pedia, no recurso, que a CCJ declarasse a denúncia do Novo como “improcedente”, o que levaria ao arquivamento do caso. Também pleiteava que o colegiado:

  • reconhecesse a suspeição de Paulo Magalhães e determinasse o reinício do processo no Conselho de Ética, com a escolha de um novo relator;
  • ou modulasse a pena recomendada a Glauber, retirando a perda de mandato.
  • À comissão, Glauber argumentou que houve “inconstitucionalidades, antiregimentalidades, abusos, nulidades e ilegalidades” na condução do processo pelo Conselho de Ética.

    Ele também voltou a apontar suposta interferência do ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), com quem o parlamentar do PSOL entrou em rota de colisão depois de apontar participação de Lira em supostas irregularidades na distribuição de emendas parlamentares.

    O relator do recurso, deputado Alex Manente (Cidadania-SP), rejeitou todos os pedidos de Glauber Braga.

    Em seu parecer, Manente argumentou que os pedidos de Glauber, se acolhidos pela CCJ, configurariam “verdadeira usurpação de competência do Conselho de Ética e atentariam contra a separação funcional dos órgãos internos da Câmara”.

    A defesa de Glauber Braga rebateu, ao longo da manhã, o parecer de Manente. O advogado André Maimoni afirmou que o recurso não tinha o objetivo de “reavaliar os fatos”.

    “A defesa não pediu que fossem aplicadas regras do Código Civil, do Código Penal, o que está pedindo é que observem, de forma básica, alguns princípios. O que estamos pedindo é que, de modo mais imparcial possível, avaliem os fatos a partir do princípio da legítima defesa”, disse.