Armínio Fraga e Pedro Malan foram alguns dos participantes de debate com presidente do BC nesta quarta-feira
Sem que ninguém citasse o nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os impasses entre a resistência do presidente em cortar gastos sociais e a missão do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de controlar o aumento das despesas, a questão fiscal foi um dos principais temas debatidos em evento realizado na manhã desta quarta-feira 12 com o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo.
Organizado pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) em parceria com a Casa das Garças, o evento reuniu na plateia diversos colaboradores das duas entidades, que incluem figuras públicas relevantes como Edmar Bacha, Pedro Malan, Armínio Fraga e Elena Landau, entre outros.
“O Banco Central precisa de ajuda e há só uma coisa que pode ajudar, o fiscal”, disse Armínio Fraga, que presidiu o BC no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, mencionando os juros futuros, as expectativas para inflação e a dívida pública altas.
“O remédio (a taxa de juros) vai funcionar, ele sempre funciona”, continuou Fraga em um comentário a Galípolo. “Mas você, como presidente do Banco Central, vai tomar um suco amargo, e, como uma pessoa de confiança das altas autoridades do nosso país, talvez possa convencê-las de que não tem mágica. Tudo que aconteceu é muito bom, o desemprego está baixo, mas é um sonho, a festa acabou, e o BC não faz milagres. O paciente está na UTI, e o mix macroeconômico precisa mudar, mas isso não parece estar na agenda.” Galípolo foi o escolhido de Lula para assumir a presidência do Banco Central, cargo que ocupa desde o início de janeiro.
O mesmo tema foi tratado por Pedro Malan, que conduziu a implementação do Plano Real como presidente do BC, em 1993, e depois se tornou ministro da Fazenda no governo de Fernando Henrique. “Eu não sei se o Banco Central tem o respaldo que deveria ter na condução da política fiscal à luz das circunstâncias domésticas e internacionais”, disse. Malan destacou a necessidade de o governo brasileiro trabalhar para reduzir, internamente, as incertezas, em um ambiente internacional em que, com a chegada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, há três semanas, a instabilidade já tende a aumentar.
“Se tinha alguma dúvida, nas últimas três semanas ficou claro que, para o próximo quadriênio, o mundo estará mais eivado de incertezas e perigos, e, nesse contexto, é responsabilidade de todos os governos, e o nosso não é exceção, enveredar o melhor esforço para reduzir um pouco as incertezas, que agregam maiores dificuldades a esse cenário e, inclusive, ao desempenho das funções do Banco Central”, continuou o exministro. “Não tenho dúvidas de que vocês no BC farão o que é preciso ser feito, mas há corresponsabilidades que envolvem outras esferas do governo para além do Banco Central, e também precisam ter uma percepção mais ou menos clara do grau de incertezas que o mundo e, por consequência, o Brasil terão nos próximos quatro anos.”
“O remédio vai funcionar”, disse Galípolo. “O BC tem ferramentas e mostrou que tem condições de colocar as taxas de juros em um patamar restritivo e caminhar nessa direção.”
Galípolo também comentou os limites de sua comunicação à frente do BC. “É um desafio pessoal mesmo conseguir encontrar o limite do que cabe à autoridade monetária falar”, disse. “Não posso me queixar de que tenho tido espaço e voz para falar do que está acontecendo no mercado e traduzir o que está acontecendo, como os preços e os ativos estão reagindo.”
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