“A curva entrou em declínio na região metropolitana inegavelmente”, diz Beltrame

7 de junho de 2020 at 09:04

Luiz Flávio

DOL

Secretário de Saúde fala da situação da Covid-19 no Pará, bem como sobre as ações do Governo do Estado para combater a pandemia

Secretário de Saúde fala da situação da Covid-19 no Pará, bem como sobre as ações do Governo do Estado para combater a pandemia | Wagner Almeida

 A s estratégias e ações de saúde pública adotadas desde a segunda quinzena de março pelo governo do Estado no combate à pandemia do novo coronavírus estão dando certo. Os números da Secretaria de Estado de Saúde (Sespa) atestam que foram tomadas as medidas corretas, o que possibilitou a volta de atividades econômicas e sociais e medidas de distanciamento controlado e protocolos específicos para a reabertura gradual de estabelecimentos comerciais desde o último dia 1º, em algumas cidades.

“O Pará vai continuar descendo degrau a degrau a escada do isolamento em todo território paraense, saindo do isolamento máximo que foi o lockdown para uma realidade intermediária que pressupõe cautela e responsabilidade de todos os setores envolvidos. Os números nos amparam”, garante Alberto Beltrame, secretário de Estado de Saúde e presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).

Números mostram queda nos índices: nos atendimentos clínicos e ambulatoriais, no número de casos e óbitos por dia, na pressão sobre o sistema de saúde, com redução no número de internações hospitalares e nos leitos de UTI, que até a última quinta-feira era de 81%, com tendência de queda (veja mais no box ao lado).

“Os números atuais têm a ver com grande esforço feito pela sociedade de ficar em casa, praticar o isolamento. Seguimos com uma mensagem muito clara: a melhor forma de evitar uma segunda onda de contaminação é ficando em casa”, alertou Beltrame, que conversou com o DIÁRIO na quinta-feira. O dirigente mostrou números, apontou soluções e falou sobre o futuro do combate à pandemia no Pará. Confira!

O Estado entrou num outro momento da pandemia de Covid-19? Os números registrados nas últimas semanas justificam as medidas de flexibilização do isolamento social decretado pelo governo do Estado no início deste mês?

R: Desde o dia 16 de março o Estado vem editando uma sequência de decretos que representam uma escada de subida no nível e isolamento social, de acordo com a realidade epidemiológica de cada momento. O isolamento social é uma ferramenta de gestão em emergência de saúde pública que protege as pessoas e permite que o sistema se prepare para fazer o enfrentamento dos casos. Fomos o primeiro Estado do país a decretar lockdown.

E a pressão sobre o sistema de saúde? Como anda a oferta de leitos no Pará?

R: A pressão foi tamanha que o sistema de urgência e emergência de Belém colapsou: todas as UPA’s e Pronto-Socorros fecharam. Em seguida colapsou o sistema privado também. Isso foi naquela última semana de abril, quando tivemos muitas mortes por dia, pessoas morrendo em casa…Essa situação começou a descomprimir quando abrimos a Policlínica para atendimentos clínicos, que passou uma semana sob uma pressão enorme com muitos atendimentos diários. Chegou um momento que chegamos a atender quase 1,4 mil pessoas por dia. Hoje baixou para pouco mais de 500. O mesmo aconteceu no hospital Abelardo Santos quando decidimos que a unidade seria um grande Pronto-Socorro de portas abertas apenas para pacientes de Covid-19. Chegamos a ter lá mais de 1,6 mil atendimentos por dia. Hoje caiu para menos de 300… Foi uma verdadeira operação de guerra… Só no primeiro dia foram 90 pessoas internadas. O Hospital de Campanha do Hangar também mudou seu perfil: era para atender apenas casos leves e moderados e se transformou num hospital onde chegamos a ter 420 leitos clínicos com 90 leitos de UTI. Hoje a situação mudou: há clara queda nos atendimentos clínicos e ambulatoriais, queda no número de casos e óbitos por dia, redução considerável na pressão sobre o sistema de saúde com diminuição no número de internações hospitalares e nos leitos de UTI que até hoje (quinta-feira) é de 81%. Isso nos dá segurança para fazer a flexibilização no isolamento, com a cautela necessária do governo e da sociedade, de todos os setores envolvidos.

Se as previsões do governo se concretizarem nas próximas semanas e a ampliação do relaxamento social se concretizar, qual sua principal recomendação para a população?

R: Apesar do relaxamento, reforço a importância das pessoas continuarem seguindo as regras do distanciamento social, cruciais para a confirmação dessa tendência apontada pelo monitoramento da Sespa. O isolamento é uma importante ferramenta para reduzir o número de casos acumulados e simultâneos. A isso chamamos achatar a curva da doença. Dessa forma evitamos o colapso no sistema, que podem comprometer o tratamento dos pacientes. Quanto maior o número de casos num curto espaço de tempo, maior o impacto no sistema de saúde pública. A lógica do isolamento social não é evitar a contaminação, mas sobretudo retardar a contaminação em massa.

As recomendações e regras de isolamento e distanciamento social permanecem?

R: O primeiro Estado a decretar oficialmente o lockdown no Brasil com base em dados epidemiológicos foi o Pará, no dia 7 de maio e assim ficamos até o dia 24 de maio. Chegamos a ter percentual de 62% de isolamento nesse período, com uma média que variava entre 55% e 57%. Hoje caímos para 38%. Não podemos sair de um grau máximo de isolamento como o lockdown e entrar num “liberou geral”. Descer a escada precisa ser tão cauteloso quando subir os degraus. Por isso criamos fases intermediárias através do sistema de bandeiramento de regiões que vão sendo liberadas de acordo com dados científicos e epidemiológicos sobre a epidemia. Todas as recomendações de distanciamento e de cuidado para prevenção permanecem e devem ser intensificadas. As pessoas devem continuar se protegendo para que não tenhamos um repique de casos na região metropolitana. Foram 17 dias de lockdown e de sacrifício e não podemos simplesmente desprezar esse esforço todo e sair todos às ruas. A confirmação da tendência de queda depende principalmente do respeito às regras de distanciamento social daqui em diante. Estamos monitorando diariamente os dados e vigiantes. Se tivermos que tomar novas medidas restritivas não tenha dúvida que vamos fazê-lo, sempre baseado na epidemiologia e evidências científicas. Por enquanto ainda não podemos voltar à normalidade de antes, mas a um “novo normal”.

E como definir qual o grau de isolamento necessário em cada uma dessas regiões do Estado?

R: São muitas variáveis, mas entre as principais estão o número de novos casos e de óbitos novos nos últimos 14 dias e o nível de pressão no sistema de saúde no que se referem aos atendimentos ambulatoriais, clínicos e nas UTI’s. Com esses indicadores em mãos é possível ter um quadro real da situação e que nos dará parâmetros para nossas decisões. O decreto estadual caminha nesse sentido. Cada município tem liberdade para adotar critérios restritivos que achar mais convenientes. O pico de novos casos em Belém foi no dia 20/04, quando tivemos 920 novos casos confirmados em apenas um dia. A partir daí começou gradativamente a reduzir e nos últimos 14 dias houve uma queda significativa nos casos em Belém e Região Metropolitana. Saímos de 920 casos para 29 novos casos registrados ontem (quarta-feira). O pico de óbitos na Região Metropolitana ocorreu em 01/05, com 85 óbitos num único dia. A partir dessa data esse número se manteve alto por alguns dias e foi caindo gradativamente até que registramos apenas 3 mortes ontem (quarta-feira). Esses números vêm caindo sustentadamente. A curva entrou em declínio na região metropolitana inegavelmente.

E como fica a questão da subnotificação dos casos tendo em vista que a doença se alastra para o interior e há um atraso no envio dos dados para o sistema?

R: Os dados mostram que a curva epidemiológica da Covid-19 começa a se deslocar rumo ao interior. Ao mesmo tempo temos um atraso no envio de dados da doença pelas prefeituras à Sespa no que se refere aos testes rápidos. Já distribuímos para as prefeituras mais de 150 mil testes rápidos que enxerga a doença para trás, que já passou. A Sespa rastreia todos os óbitos ocorridos em cada município para sempre atualizar os dados e nenhum dos dados antigos vai impactar na curva descendente da região metropolitana, porque são óbitos ocorridos no passado e há mais tempo. As informações vindas do interior estão atrasadas, mas o sistema de notificação de casos novos, de óbitos, de descartes e de pessoas curadas desenvolvido pela Prodepa através do site em parceria com a Sespa com dados de todos os municípios têm ajudado muito na transparência e na análise dos dados. No momento, as cidades de Altamira, Marabá, Redenção, Soure e Parauapebas são os focos de preocupação e devem receber novos hospitais de campanha, com 60 leitos cada, com mais UTI’s. Belém também ganhará um novo hospital de campanha, com 220 leitos, mas com perfil diferenciado: devolver, gradativamente, o Hospital Regional Abelardo Santos hoje pronto-socorro às suas especialidades originais.

Como anda a gestão dos respiradores nos hospitais pelo Estado?

R:: Antes da pandemia tínhamos no Pará 706 leitos de UTI do SUS. Hoje com a pandemia agregamos mais 609 leitos, quase duplicando o número anterior, todos com respiradores. Se necessário vamos ampliar ainda mais essa capacidade de atendimento, agora mais voltado para o interior. Estamos fazendo a gestão desses mais de 1,3 mil leitos de acordo com a necessidade de cada região e de cada cidade. Dos 609 novos respiradores que adquirimos nesse período 303 estão aqui na região metropolitana. Estamos aguardando a resposta sobre a possibilidade de compra de mais 400 respiradores em Minas Gerais e aguardamos apenas que os equipamentos recebam o registro da Anvisa.

Números

– A Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) confirma a redução em Belém: os atendimentos em geral nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA’s) em março foram de 39.568. Em abril caíram para 22.087 e, em maio, de 14.846, com uma redução de 67% nos atendimentos em relação a abril. Depois do colapso no sistema, a Sesma informa que “agora o serviço das UPA’s já está normalizado”.

– Números da Unimed Belém, maior operadora de saúde da capital, também mostram uma queda significativa dos casos confirmados de Covid-19 em maio. O pico dos atendimentos na cooperativa ocorreu entre os dias 16 e 22/04, quando 102 casos foram confirmados e 21 casos suspeitos registrados.

A partir daí os números só caíram: entre os dias 1 e 7/05 foram 77 casos confirmados e 42 suspeitos. Já nos últimos dias do mês passado (de 23 a 31/05) foram 32 casos confirmados e 52 suspeitos, com os números de confirmações caindo quase pela metade. Nos 5 primeiros dias desse mês a operadora registrou apenas 3 casos confirmados.

– O Centro de Perícias Científicas Renato Chaves já chegou a receber 20 corpos por dia. Até a última sexta-feira a média estava em 1. Na terça-feira a instituição desativou 2 dos 3 contêineres frigoríficos alugados para armazenar corpos de vítimas de causas naturais e doenças, nas quais se incluem as provocadas pelo novo coronavírus.

– O Hospital Regional Abelardo Santos, em Icoaraci, diminuiu em 60% os atendimentos nos últimos 15 dias em comparação com a quantidade registrada na primeira quinzena de maio.

O Abelardo, que se tornou exclusivo para atendimentos de pacientes acometidos pela Covid-19, registrou média de atendimentos diários de 1.340 pessoas (pronto socorro e ambulatório). O Hospital chegou a receber 1.639 pessoas dia 8/05. Nos últimos 10 dias de maio a média desses atendimentos caiu para 540 pacientes por dia, chegando a 240 pessoas na última segunda-feira (1).

– Já a Policlínica Metropolitana, em Belém, reduziu nos últimos 10 dias de maio para cerca de 6.2 mil atendimentos, uma queda de 36% se comparado aos 10 primeiros dias do mesmo mês, quando a unidade totalizou 9.656 atendimentos. A unidade é referência para pessoas com sintomas leves e moderados da Covid-19, em Belém e na Região Metropolitana.